Desde de quando coloquei na minha cachola que queria correr, mudar de vida, ser mais ativa e vencer a obesidade, eu tinha certeza que teria que mudar por dentro para conseguir isso. Tudo em minha rotina e estilo de vida seria diferente. Isso já faz um ano.
Mas mesmo assim ainda fui teimosa comigo mesmo. Não estava com os dois pés dentro deste mundo fascinante e endorfinado. Ainda bebia, enfiava o pé na jaca nos finais de semana e matava o treino sem dó nem piedade. O que aconteceu? Fui diminuindo meu ritmo de treino até parar e ficar 4 longos meses parada e engordando novamente.
Orgulho disso? Nem um pouco! Arrependimento? Um pouco, mas mesmo assim valeu como aprendizado. Aprendi que não dá para mudar pela metade. Não dá para continuar com a cabeça de gordo no corpo de corredora. A mudança é constante, não de um dia para o outro, mas se faz a todo momento, quando eu faço minhas escolhas.
Escolher não é sacrificar. Escolher é liberdade. Vc tem o livre arbítrio de levar a vida que quiser como quiser. Só que vc é refém das suas escolhas, porque elas trazem consequências. É possível entender isso? Quando aquele dia amanhece frio, chuvoso e vc pensa "ah hoje eu não vou trabalhar", logo em seguida vc avalia a sua decisão e o peso dela. Muitas vezes está em jogo o emprego, a responsabilidade do seu cargo e o que acontece? Vc levanta resmungando, mas vai, porque sabe das consequências. Se com seu trabalho vc tem responsabilidade de fazer o que é NECESSÁRIO ao invés de fazer o que QUER, por que no resto da sua (minha) vida a coisa não é assim?
Quando fui para Atos Green no final de março, tudo isso passou pela minha cabeça enquanto eu CAMINHAVA na prova. Eu estava cansada da minha vida de orgias alimentares e alcoólicas, de tardes e mais tardes sentada na frente da TV e no facebook, e o pior, estava cansada da imagem derrotada que via (ainda está por aqui, mas com menos intensidade) no espelho. E de novo, quis assumir novamente outro estilo de vida. Com todos os ônus e bônus que vem com ele.
Primeiro passo: assumi a responsabilidade sobre minha alimentação. Sou compulsiva alimentar em tratamento e isso agrava a minha situação, mas não quer dizer que é impossível. Me assumir compulsiva e procurar tratamento e aceitá-lo foi um grande passo. Demorei muito para conseguir isso. Hoje eu sei quando como por fome e quando como por compulsão. Saber controlar isso me dá domínio sobre a situação. Ninguém ou nada é responsável pelas suas escolhas alimentares.
Segundo passo: parar de beber. Eu adoro cerveja e vinho e claro, nunca misturei os dois. Apesar de beber pouco, somente nos finais de semana, a bebida alcoólica é uma "porteira" para a compulsão. Quando bebo não como direito, fico beliscando, comendo petiscos, castanhas, frituras etc... Fora a própria cerveja e vinho que são calorias vazias e além de te engordar, te incham. Beber nunca mais? Claro que não!, mas vou deixar para momentos muitos especiais.
Terceiro passo: se tornar proativo. Ser proativo é não economizar oportunidades para se mexer. Buscar alguma coisa em outro cômodo ao invés de pedir para alguém, usar escadas ao invés do elevador, estacionar longe, caminhar de volta do trabalho... São pequenas coisas que deixamos de fazer e isso, como diz minha mãe, "vai te atrofiando", ou seja, quanto menos vc faz, menos vontade vc vai ter de fazer.
Quarto passo: dormir cedo. Muito difícil para alguns, mas extremamente necessário, ainda mais se vc treina de manhã. Eu sou uma "galinha" para dormir. Em torno das 21hs eu quero estar na cama lendo um livro e esperando o sono chegar. Acho que é porque eu acordo muito cedo todos os dias. O importante é vc descobrir o quanto de sono se faz necessário para seu descanso e respeitá-lo. Eu preciso de 7 a 8 horas e menos que isso, fico podre.
Quinto passo: atividade física no mínimo 5 vezes na semana. Esta foi a primeira semana que consegui colocar este passo em ação. Fiz 6 dias de atividade física. Corri 3 dias, andei 2 e pedalei 1. Neste momento eu não posso correr todos os dias por que ainda estou ganhando resistência e emagrecendo, mas isso não me impede de fazer uma atividade mais leve e porque não mais divertida. Me diverti muito pedalando ontem. Isso que é legal, descobrir o quanto vc se sente bem quando se mexe.
Nestes anos de obesidade eu esqueci de algo que era meu quando adolescente: como eu gostava de me mexer! nunca me importei de ficar vermelha, suada e descabelada. Corria, pulava, e até na época das baladas, minha maquiagem escorria, mas me acabava na pista de dança. A sensação que tenho quando acaba é muito BOA!
Sexta a noite tivemos um teste de 3km. Foi o meu primeiro com a equipe, então não tive parâmetro para comparar. Mesmo assim, comparando com outras provas, vi que estou muito melhor. E durante o teste me senti muito feliz em ouvir minha respiração rápida, as pernas se mexendo cada vez mais rápido, o coração tranquilo apesar dos batimentos altos. Venço os limites que tentam me impor todos os dias. Correr não é apenas um atividade física. Correr é vencer barreiras, se desafiar, mudar de vida. Correr é liberdade!